Conexão 22

 

100 anos da Semana de Arte Moderna Conectar significa unir ou unir-se através de uma conexão. Por isso, na Conexão 22, o seu Brasília irá prestar uma dupla homenagem conectando o centenário da emblemática Semana de 22 ao aniversário de 25 anos do mall.

Essa celebração em formato de homenagem, visa também conectar e estabelecer as relações do público brasiliense às manifestações artísticas e comportamentais a imagem da sociedade que somos e que nos inspiramos em ser.

De 08 a 27 de março no Brasília Shopping

CONFIRA A EXPOSIÇÃO

A R T E S   V I S U A I S

Zina Aita

Zina Aita (1900-1967) foi uma das poucas mulheres que participaram da Semana de Arte Moderna, sendo também a única representante mineira do evento. Apesar disso, seu trabalho costuma ser esquecido pela história da arte brasileira, sendo lembrado esporadicamente por nomes como o da historiadora da arte Aracy Amaral.

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Nascida em Belo Horizonte, Zina trabalhava principalmente com pintura e ilustração, tendo inspiração pós-impressionista. Costumava pintar cenas cotidianas e retratos. Entre 1903 e 1918 estudou na Academia de Belas Artes De Florença e, de volta ao Brasil, tornou-se amiga de Anita Malfatti e Mário de Andrade. Em 1920 realizou sua primeira exposição individual em sua cidade natal. Além de expor na Semana de Arte Moderna, Zina também criou ilustrações para revistas publicadas pelos modernistas, como a Klaxon. Se mudou para a Itália em 1924 e lá se dedicou à cerâmica, obtendo êxito e reconhecimento na região.

 

Sua obra mais conhecida é a pintura “A sombra” (1922), que retrata trabalhadores calçando uma rua. A pintura demonstra a grande influência pós-impressionista (em particular do artista francês Georges Pierre-Seurat) no trabalho de Zina, sendo composta com a chamada técnica divisionista, que consistia em separar as cores em pinceladas ou pequenos pontos de cor pura, com a intenção de guiar o espectador a construir a imagem da pintura com o próprio olhar.

Obra:
Homens Trabalhando

Tarsila do Amaral

Tarsila do Amaral (1886-1973) é considerada uma das maiores artistas da história do Brasil. Nasceu em Capivari, interior de São Paulo, onde cresceu nas fazendas da família. Foi para a Espanha em 1902 finalizar os estudos, e lá começou a se interessar por arte. Voltou ao Brasil em 1913, em meio às turbulências da 1° Guerra Mundial. A partir daí, trabalhou no ateliê do escultor William Zadig e estudou pintura e desenho com Pedro Alexandrino.

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Se tornou amiga de Anita Malfatti e, em 1920, viajou a Paris, onde entrou em contato com as vanguardas" "dadaístas e futuristas. Fora do país, não participou efetivamente da Semana de Arte Moderna de 1922, mas foi uma das grandes influenciadas pelo evento, sempre atenta e se aprimorando nas técnicas e conceitos modernos. Tarsila desenvolveu trabalhos de pintura e desenho, sendo especialmente inspirada pelo movimento cubista, dentre outras vanguardas europeias. Suas obras possuem uma intensa investigação da cor e forma a fim de explorar o conceito de brasilidade, um dos questionamentos centrais do modernismo brasileiro.

 

“Abaporu” (1928), seu mais famoso e icônico quadro, é a síntese do modernismo brasileiro e inspiração para a criação do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, que tinha como principal conceito a fomentação de uma cultura brasileira a partir da absorção da cultura europeia. Na obra podemos enxergar uma figura humana sentada, com grandes pés e mãos em oposição à cabeça em menor escala, além de elementos que remetem ao sertão brasileiro, como o sol a pino e o cacto. A posição da figura, com uma das mãos encostadas na cabeça, é enxergada por alguns críticos como uma referência à escultura “O pensador” de Auguste Rodin. O verde, amarelo e azul, cores da bandeira nacional, se destacam na pintura. Já “Antropofagia” (1929) é uma espécie de continuidade da poética e estética criada por Tarsila em “Abaporu”, sendo também uma assimilação de uma outra obra conhecida da artista, “A negra”, de 1923. Em “Antropofagia”, Tarsila mescla as duas figuras principais das obras anteriores em meio a uma paisagem mais densa e idílica, com predomínio do tom verde, como se tentasse resgatar um Brasil antigo, pré-colonização. A união das duas figuras junto a paisagem é, portanto, uma conciliação entre aspectos modernos e primordiais, cerne do modernismo brasileiro.

Obra:
Abaporu, 1928
Obra:
Antropofagia

Candido Portinari

Candido Portinari (1903-1962), um importante fruto do modernismo brasileiro, foi pintor, ilustrador, gravador e professor. Nasceu em Brodósqui, interior de São Paulo. Se mudou para o Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos em pintura na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1928 viajou para Europa, onde entrou em contato com obras de artistas fundamentais para" "sua trajetória, como Amedeo Modigliani e Pablo Picasso.

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De volta ao Brasil, se dedica a produzir obras de características nacionais, buscando retratar o povo brasileiro e suas mazelas, estando portanto alinhado aos ideais modernistas e se tornando um de seus principais representantes. Tornou-se amigo de Mário de Andrade, que nutria grande admiração pelo pintor, chegando a escrever artigos e análises sobre sua produção artística. Portinari é também reconhecido por seus murais, dentre eles, os famosos painéis Guerra e Paz (1953-1956), comissionados para a sede da ONU em Nova Iorque. Assim como outros modernistas, o artista explorou a relação do brasileiro com questões sociais como a fome, a pobreza e o trabalho, assim como as tensões latentes entre o meio urbano e o rural, principalmente dentro do contexto de industrialização do país. Um dos principais exemplos dessas indagações é o comovente “Os retirantes” (1944), que representa uma família nordestina fugindo da seca, uma situação ainda atual, cerca de setenta anos após a produção da pintura. O efeito de desolação é atingido pelo uso de cores de tons frios e pelo modo que os corpos retratados se assemelham a pedras. As pinceladas marcam bem a desnutrição causada pela fome, além de trazerem uma sensação de desintegração, com os rostos das crianças sendo praticamente disformes.

Obra:
Retirantes, da série Retirantes, 1944-1945, 1944

Di Cavalcanti

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, mais conhecido como Di Cavalcanti, nasceu no Rio de Janeiro em 1897. Como artista, explorou diversas mídias: pintura, gravura, ilustração e cenografia são algumas das atividades que desenvolveu, sempre em busca de uma identidade nacional por meio do retrato de figuras e símbolos populares. Iniciou seu trabalho como ilustrador em 1914, publicando sua primeira ilustração na revista Fon-Fon.

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Se mudou para São Paulo em 1917, onde frequentou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco e estudou pintura com o professor alemão Georg Elpons. Tornou-se amigo de intelectuais paulistas como Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida, com os quais futuramente viria a organizar a Semana de Arte Moderna de 1922. Além de ser responsável pela criação dos icônicos catálogo e cartaz da mostra, Di Cavalcanti também expôs onze telas. Apresentando um desenho simples de uma árvore em crescimento e suas raízes expostas, o cartaz simbolicamente representa o nascimento de um novo pensamento na cultura brasileira - uma das principais marcas da Semana de 22.

 

Seu trabalho mais conhecido, no entanto, é a pintura “Cinco moças de Guaratinguetá”, de 1930, que retrata um conjunto de mulheres mestiças. A obra demonstra uma consolidação de princípios modernistas como o apreço pelo imaginário popular e a inspiração em vanguardas como o cubismo, ao retratar cada uma das moças em um plano e com cores distintas, gerando uma fragmentação do espaço pictórico.

Obra:
Cinco moças de Guaratinguetá, 1930
Obra:
Capa do programa da Semana de Arte Moderna de 22, autoria de Di Cavalcanti

Anita Malfatti

Anita Malfatti (1989-1964) é uma das principais vozes do modernismo brasileiro e uma das poucas mulheres a ocupar um lugar de destaque no movimento. Filha de imigrantes de origem alemã, italiana e norte-americana, a artista desenvolveu trabalhos nas áreas de pintura, desenho e gravura, dentre outros. Inicia-se na técnica da pintura por intermédio da mãe, a pintora Betty Krug.

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Foi intensamente inspirada pelo expressionismo alemão, vanguarda a qual teve contato na ocasião de uma viagem de estudos para Berlim em 1910. Fez sua primeira exposição individual em São Paulo, no ano de 1914, com a intenção de pleitear uma bolsa de estudos junto ao Pensionato Artístico do Estado de São Paulo, sem êxito. No ano seguinte, embarcou para Nova Iorque com a ajuda do tio, onde mergulhou de vez na linguagem expressionista. De volta ao Brasil em 1917, expõe suas pinturas novamente em São Paulo. As obras causam polêmica e despertam críticas ferozes, entre elas, o famoso artigo “Paranóia ou Mistificação” de Monteiro Lobato, considerado um dos estopins para a criação da Semana de Arte Moderna de 22. Tornou-se amiga de Oswald de Andrade, Mário de" "Andrade, Tarsila do Amaral e Menotti del Picchia, formando com eles o que ficou conhecido posteriormente como “Grupo dos Cinco”.

 

“A estudante” é uma das obras mais famosas de Malfatti, trazendo em sua composição referências de forma, cor e conteúdo derivados do expressionismo alemão e que inspiraram o movimento modernista. Como destaque, podemos observar as pinceladas intensas e marcadas, a tinta bem diluída e o contraste das cores quentes e frias, o que colabora para a criação da expressão da estudante.

Obra:
A estudante, 1915-16

L I T E R A T U R A

Oswald de Andrade

Oswald de Andrade (1890-1954) foi um escritor, dramaturgo, ensaísta e jornalista paulista. Começou seu trabalho como jornalista em 1909 e fundou o semanário “O pirralho” em 1911. No ano seguinte, em viagem pela europa, entrou em contato com o manifesto futurista do italiano Filippo Tommaso Marinetti, que se tornou uma grande influência em sua obra. De volta ao Brasil, lançou seu livro de estreia em 1916 e se formou em direito na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 1919. Foi um dos idealizadores e figuras centrais da Semana de Arte Moderna de 1922.

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É um dos grandes expoentes do modernismo brasileiro, sendo o criador dos manifestos Pau-Brasil (1924) e Antropofágico (1928), que ajudaram a consolidar as bases do movimento ao defenderem uma arte de caráter nacional de investigação da brasilidade a partir da deglutição da cultura estrangeira e sua incorporação à cultura local. Irreverente e combativo, ficou conhecido como o mais inovador no grupo modernista.

 

Tais características são facilmente reconhecidas em sua obra literária. O conhecido poema “Canto de Regresso à Pátria” é uma paródia (figura de linguagem muito utilizada pelos modernistas) do famoso poema “Canção do Exílio” (1843), de Gonçalves Dias, tendo em seus versos de exaltação da pátria e sua natureza um teor nacionalista condizente com os movimentos Pau-Brasil e Antropofágico. Já “A roça” é um poema composto em versos livres, destacando-se por sua assertividade e tamanho breve (conhecido pelos modernistas como “poema-pílula”), uma das muitas investigações literárias de Oswald de Andrade. O poema, publicado como parte do conjunto “Poemas da Colonização” no livro “Pau-Brasil” (1925) também assume um tom narrativo, como se fosse uma espécie de microconto ao narrar a condição do indivíduo negro escravizado no Brasil daquela época. Tais características também são observadas em outro texto do livro, “Poema da Cachoeira”. O poema, composto por uma linguagem simples e palavras populares, narra a vivência de um trabalhador itinerante, que vê na cidade grande uma oportunidade de mudar de vida.

 

Onde ver os poemas: “Oswald de Andrade - Poesias Reunidas”, Companhia das Letras (1° edição de 2016)

POEMAS

Canção do Regresso à Pátria


Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

 

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

 

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

 

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

A roça

 

Os cem negros da fazenda
Comiam feijão e angu
Abóbora chicória e cambuquira
Pegavam uma roda de carro
Nos braços

Poema da Cachoeira


É a mesma estação rente do trem
Toda de pedra furadinha
Meu pai morou alguns anos aqui
Trabalhando
Um dia liquidou
Ativo passivo
Cinco galinhas
E deram-lhe uma passagem de presente
Para que eu nascesse em São Paulo
Como não houvesse estrada de rodagem
Ele foi na de ferro
Comprando frutas pelo caminho

Mário de Andrade

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é um dos maiores nomes da história da literatura brasileira. Foi poeta, contista, cronista, ensaísta e tradutor, tendo uma obra extensa e diversa que se estendeu por cerca de sessenta anos. Uma de suas temáticas centrais era a investigação do homem e seu lugar no mundo, dentre outras questões existenciais, embora tenha tecido comentários sobre diversos tópicos em sua vasta produção literária.

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Nascido em Itabira, interior de Minas Gerais, mudou-se com a família para Belo Horizonte aos 8 anos de idade. Lá se formou em farmácia em 1925, mas nunca chegou a exercer a profissão. Apesar de não ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922, foi profundamente inspirado por ela, através de sua amizade com Mário de Andrade, que o incentivou a publicar seu primeiro livro, “Alguma Poesia” (1930). A obra - composta por poemas escritos ao longo da década de 20 - traz características fundamentais da primeira fase do modernismo, como a absorção de estrangeirismos (é comum Drummond se utilizar de palavras em inglês e em francês), a forma livre, a linguagem coloquial , o sarcasmo e a paródia, além dos chamados “poemas-pílulas” ou seja, poemas curtos e breves.

 

Tais aspectos podem ser percebidos em todos os textos de “Alguma Poesia”. Podemos destacar o famoso poema “No meio do caminho”, pronto já em 1924 e, segundo Mário de Andrade, “o mais forte exemplo que conheço, mais bem frisado, do mais psicológico cansaço intelectual”. Os versos são uma paródia do soneto “No Meio do Caminho”, do parnasianista Olavo Bilac, que representava os conceitos antiquados que os modernistas buscavam desconstruir. Em oposição ao soneto de Bilac, Drummond utiliza uma linguagem simplificada e popular (como no uso do verbo “ter” em vez de “haver”), oferecendo ao mesmo tempo uma crítica aos padrões literários ultrapassados quanto uma reflexão existencial da efemeridade da vida. A linguagem popular e a brevidade também são recursos aplicados ao conhecido “Quadrilha”. Neste poema, o autor emprega a popular modalidade de dança como metáfora das dificuldades do amor e de estabelecer relações duradouras, gerando a solidão do sujeito em meio a essa grande dança onde tudo está sempre em movimento. Já em “Sweet Home”, Drummond utiliza o título em inglês como recurso para criar uma sátira da vida burguesa do início do século XX, no qual o consumo de produtos de origem estrangeira direcionava também o comportamento dos indivíduos (por exemplo, o hábito inglês de tomar chá).

 

Onde ver os poemas: “Alguma Poesia”, Companhia das Letras; 1ª edição (26 junho 2013)

POEMAS

No meio do caminho

 

No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Quadrilha

 

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Sweet Home
A Ribeiro Couto

 

Quebra luz, aconchego.
Teu braço morno me envolvendo.
A fumaça do meu cachimbo subindo.
Como estou bem nesta poltrona de humorista inglês.

 

O jornal conta história, mentiras…
Ora, afinal, a vida é um bruto romance
E nós vivemos folhetins sem o saber.

 

Mas surge o imenso chá com torradas,
Chá de minha burguesia contente."

Ó gozo de minha poltrona!
Ó doçura de folhetim!
Ó bocejo de felicidade!

Carlos Drummond de Andrade

Oswald de Andrade (1890-1954) foi um escritor, dramaturgo, ensaísta e jornalista paulista. Começou seu trabalho como jornalista em 1909 e fundou o semanário “O pirralho” em 1911. No ano seguinte, em viagem pela europa, entrou em contato com o manifesto futurista do italiano Filippo Tommaso Marinetti, que se tornou uma grande influência em sua obra. De volta ao Brasil, lançou seu livro de estreia em 1916 e se formou em direito na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 1919. Foi um dos idealizadores e figuras centrais da Semana de Arte Moderna de 1922. É um dos grandes expoentes do modernismo brasileiro, sendo o criador dos manifestos Pau-Brasil (1924) e Antropofágico (1928), que ajudaram a consolidar as bases do movimento ao defenderem uma arte de caráter nacional de investigação da brasilidade a partir da deglutição da cultura estrangeira e sua incorporação à cultura local. Irreverente e combativo, ficou conhecido como o mais inovador no grupo modernista.

↑ DIMINUIR ↑

Tais características são facilmente reconhecidas em sua obra literária. O conhecido poema “Canto de Regresso à Pátria” é uma paródia (figura de linguagem muito utilizada pelos modernistas) do famoso poema “Canção do Exílio” (1843), de Gonçalves Dias, tendo em seus versos de exaltação da pátria e sua natureza um teor nacionalista condizente com os movimentos Pau-Brasil e Antropofágico. Já “A roça” é um poema composto em versos livres, destacando-se por sua assertividade e tamanho breve (conhecido pelos modernistas como “poema-pílula”), uma das muitas investigações literárias de Oswald de Andrade. O poema, publicado como parte do conjunto “Poemas da Colonização” no livro “Pau-Brasil” (1925) também assume um tom narrativo, como se fosse uma espécie de microconto ao narrar a condição do indivíduo negro escravizado no Brasil daquela época. Tais características também são observadas em outro texto do livro, “Poema da Cachoeira”. O poema, composto por uma linguagem simples e palavras populares, narra a vivência de um trabalhador itinerante, que vê na cidade grande uma oportunidade de mudar de vida.
Onde ver os poemas: “Oswald de Andrade - Poesias Reunidas”, Companhia das Letras (1° edição de 2016)

POEMAS

Canção do Regresso à Pátria


Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

 

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

 

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

 

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

A roça

 

Os cem negros da fazenda
Comiam feijão e angu
Abóbora chicória e cambuquira
Pegavam uma roda de carro
Nos braços

Poema da Cachoeira


É a mesma estação rente do trem
Toda de pedra furadinha
Meu pai morou alguns anos aqui
Trabalhando
Um dia liquidou
Ativo passivo
Cinco galinhas
E deram-lhe uma passagem de presente
Para que eu nascesse em São Paulo
Como não houvesse estrada de rodagem
Ele foi na de ferro
Comprando frutas pelo caminho

M Ú S I C A

Heitor Villa-Lobos

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é considerado o compositor sul-americano mais conhecido de todos os tempos. Nascido no Rio de Janeiro, também era regente e violoncelista. Desde pequeno estudou música com o pai, o músico amador Raul Villa-Lobos. Aprendeu violão na adolescência em meio às rodas de choro cariocas, as quais presta homenagem em diversas composições. Foi apresentado pela tia paterna ao que seria uma das maiores influências da sua carreira: a obra barroca do compositor alemão Johann Sebastian Bach.

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Durante as décadas de 1900 e 1910, Villa-Lobos estudou composição com professores renomados, fez viagens ao nordeste em busca de canções folclóricas e foi contratado como violoncelista em uma companhia de ópera. Em 1922, já reconhecido em seu meio, participou da Semana de Arte Moderna e foi pivô de um dos momentos mais lembrados do evento, quando foi vaiado pela plateia por aparecer no palco com um pé calçado com um sapato e o outro com um chinelo. Heitor Villa-Lobos teve seu trabalho reconhecido por unir música com sons naturais e trazer elementos da cultura brasileira, como pode ser percebido na série “Bachianas brasileiras” (a partir de 1930). Tratam-se de composições que mesclam folclore brasileiro a formas pré-clássicas de Bach, possuindo portanto características modernistas como a releitura e a busca por identidade nacional.

 

IV. Tocata - Trenzinho Caipira” é um trecho integrante da série Bachianas brasileiras n° 2. Com os instrumentos da orquestra, o compositor simula o movimento de uma locomotiva, demonstrando assim a transição do campo para a cidade e portanto do tradicional para o moderno. Sendo uma das peças mais conhecidas de Villa-Lobos, a melodia ganhou uma letra composta pelo escritor neoconcreto Ferreira Gullar (1930-2016) em 1977. Ferreira Gullar e outros neoconcretos foram influência para a Tropicália, movimento que retomava várias realizações da Semana de Arte Moderna. A canção foi interpretada por Zé Ramalho no álbum “Estação Brasil” em 2003.

Música

Bachianas Brasileiras n° 2 - IV. Tocata - Trenzinho Caipira

Tropicália

A Tropicália foi um movimento cultural brasileiro na década de 1960 que buscou - na música, teatro, cinema e poesia - mesclar elementos culturais populares brasileiros com influências estrangeiras. O nome nasceu a partir de uma obra do artista plástico Hélio Oiticica em 1967, sendo utilizado pela mídia para se referir ao novo grupo de artistas ávidos por explorar novas maneiras de se fazer arte, sobretudo com um teor de crítica social em plena ditadura militar brasileira (1964-1985).

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O movimento foi fortemente influenciado pela Semana de Arte Moderna de 1922 e pelo movimento antropofágico de Oswald de Andrade. Na música, promoveram o uso da guitarra elétrica, até então rechaçada na música brasileira. Culminou na produção do álbum ""Tropicália ou Panis et Circencis” (1968), que contou com nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e Tom Zé. A capa do projeto (foto) foi inspirada em uma fotografia dos modernistas nos anos 1920.

 

Escrita pelo poeta José Carlos Capinan, A canção “Miserere Nobis” tem o título de uma expressão latina, trecho da oração Agnus Dei, que significa “Deus tenha piedade de nós”, o que demonstra o ambiente religioso amplamente difundido no Brasil no qual os compositores cresceram. A expressão é uma prece de proteção para o povo brasileiro, em meio a questões como a fome e a ditadura, criando uma metáfora de natureza política a partir da comida. É notório o uso de imagens simbólicas cristãs, como o peixe e o vinho. A canção se inicia com um tom solene, se assemelhando a cantos católicos, sendo um exemplo de intertextualidade (um dos principais aspectos modernistas) na música.

Música

Gilberto Gil / Miserere nobis - do álbum “Tropicália ou Panis et Circencis”:

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DAS OFICINAS

12/03 - Sábado

11h - Colagem com Abaporu

14h - Esculpindo a Arte Moderna em cerâmica fria

16h - Oficina de retratos dos artistas da Semana de Arte de 1922

19/03 - Sábado

11h - Aquarela experimental

14h - Recriando a Semana de 22

16h - Autorretrato com Anitta Malfatti

26/03 - Sábado

11h - Criando as cores de Tarsila

14h - Aquarela modernista

16h - Mural da Arte Moderna

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